No mundo do entretenimento, a linha entre o real e o fabricado frequentemente se confundem, um fenômeno que atingiu seu ápice recente na tão falada luta entre Popó e Bambam, nessa farsa de marketing.
A luta aconteceu no último sábado (24), durante o Fight Music Show em São Paulo e, embora à primeira vista, este evento possa parecer apenas mais um evento visando capturar a atenção do público e fazer grana, uma análise mais profunda revela uma complexa teia de marketing e manipulação, questionando a própria autenticidade do que foi apresentado aos espectadores.
Aqui na agência Nambbu trabalhamos com a comunicação e marketing de eventos corporativos, o que foge um pouco a esse show business, mas o ponto central é que essa encenação e os impactos de tais eventos levam as pessoas a se questionarem sobre a própria integridade do marketing como um todo.
Não podemos deixar isso passar em branco, porque o marketing para evento não pode ser nivelado com essa narrativa mentirosa que vivenciamos nos últimos meses. E justamente por isso, gostaríamos de propor quatro pontos de reflexão:
- A farsa embalada para venda
- A ilusão de competitividade e o teatro do absurdo
- O impacto na integridade do marketing
- Em busca de um marketing mais autêntico
A farsa embalada para venda
Primeiramente, a luta entre Popó, um pugilista campeão mundial, e Bambam, uma personalidade da mídia conhecida pela sua participação em um reality show há muitos anos, prometia ser um embate épico. Contudo, o que transpareceu para muitos como uma disputa genuína, na realidade, logo depois foi interpretada como ação orquestrada para maximizar a atenção e o engajamento do público através de uma narrativa fabricada.
Acelino Popó Freitas reconheceu o poder de Kleber Bambam em seu discurso de vitória. O ex-campeão de boxe admitiu que as provocações e estratégias de promoção adotadas por Bambam foram responsáveis por atrair uma grande audiência para a luta. Popó afirmou que muitos espectadores compareceram ao evento motivados pelas provocações do empresário, não apenas pelo boxeador veterano. Ele ressaltou a habilidade de Bambam em criar um “marketing diferenciado”, capaz de gerar grande repercussão e interesse.
A ilusão de competitividade e o teatro do absurdo
O primeiro ponto de interrogação surge na própria concepção da luta. Ao analisarmos o histórico e a preparação de ambos os competidores, fica evidente a disparidade de experiência e habilidade, lançando dúvidas sobre a legitimidade da competição. Portanto, a própria discrepância já sugere uma montagem, onde o resultado parece ter sido um elemento secundário, ofuscado pelo brilho das luzes da publicidade e do entretenimento.
A promoção do evento foi um “espetáculo” à parte, repleto de provocações, declarações bombásticas e um show antes da luta que, por vezes, beirou o absurdo. Essa abordagem teatral, embora eficaz em gerar burburinho e expectativas, também serviu como um mecanismo de distração, desviando a atenção da falta de substância real no confronto proposto.
A verdade inconveniente é que a luta entre Popó e Bambam, mais do que um evento esportivo, foi uma minuciosa publicidade enganosa ou talvez até abusiva. O objetivo nunca foi promover uma competição justa ou celebrar o esporte, mas sim capitalizar sobre a fama e a influência de suas personalidades, transformando a curiosidade e o entusiasmo do público em lucro.
Apesar do sucesso econômico indiscutível do evento, é fundamental questionar: o marketing deve ser puramente uma ferramenta para gerar lucro? Philip Kotler, uma autoridade no campo do marketing, nos lembra que o verdadeiro propósito do marketing transcende a mera geração de dinheiro. O objetivo principal deve ser entregar valor autêntico ao público, algo que vai além do aspecto financeiro.
Portanto, ao avaliar o sucesso do evento, é essencial não apenas considerar os resultados financeiros, mas também refletir sobre o valor genuíno que o marketing trouxe para o público. O marketing não é, e nunca deve ser, sinônimo apenas de lucratividade, mas sim de criar conexões significativas e entrega de experiências valiosas.
O impacto na integridade do marketing
A polêmica luta entre Popó e Bambam ilumina uma tendência alarmante no universo do marketing: a corrida desenfreada por capturar a atenção a todo custo, muitas vezes à custa da autenticidade e da ética. Este evento se torna um estudo de caso interessante para examinar os dilemas enfrentados pelo marketing contemporâneo, questionando o que é real e o que seria uma “verdade criada”.
Muita gente se incomoda com a pergunta: Popó e Bambam competiram de verdade ou foi apenas um espetáculo orquestrado?
A evidência sugere fortemente o espetáculo, revelando uma campanha que, embora bem-sucedida em atrair a atenção global, promoveu um evento cuja substância real foi amplamente questionável. O desdobramento do evento como um espetáculo previsível, com um resultado que parecia predeterminado, destaca uma preferência por narrativas fabricadas em detrimento do espírito competitivo autêntico e da entrega de valor ao público.
Para compreender profundamente as implicações deste evento, torna-se essencial recorrer à Guy Debord em “A Sociedade do Espetáculo”. Debord argumenta que vivemos em uma era onde a realidade foi suplantada por representações e imagens – um espetáculo que molda nossa percepção do mundo.
A luta entre Popó e Bambam, nesse contexto, serve como um exemplo perfeito dessa dinâmica, transformando-se mais em um produto de consumo do que uma celebração do esporte, ainda que entre amadores ou misture pessoas de diversos níveis.
O evento exemplifica a transformação da realidade em um drama consumível, uma narrativa simplificada que desvia nossa atenção de questões de substância maior. Este cenário levanta sérias questões éticas sobre o papel dos profissionais de marketing na promoção de eventos. A criação de eventos que priorizam o espetáculo em detrimento do valor real para o público desafia a integridade do marketing. Como profissionais, temos que refletir sobre as consequências de nossas estratégias, promovendo conteúdo que respeite a inteligência, a integridade de nosso público e, sobretudo, a ética.
Em busca de um marketing mais autêntico
A luta entre Popó e Bambam, ao ser desmascarada como uma farsa, serve como um lembrete pungente da necessidade de buscar autenticidade e significado em um mundo cada vez mais dominado pelo espetáculo. É preciso questionar as imagens e representações que nos são vendidas como substitutos da realidade. Este evento, portanto, não deve ser visto apenas como uma decepção isolada, mas como um sintoma de uma sociedade que valoriza mais a aparência do que a substância, mais o entretenimento do que o engajamento.
Em última análise, a verdadeira questão que devemos nos fazer não é se Popó e Bambam entregaram um bom show, mas o que perdemos quando permitimos que o espetáculo substitua a realidade. A resposta, embora complexa, começa com o reconhecimento de que a verdadeira luta não está no ringue, mas nas tendências crescentes do espetáculo que ameaça engolir o que resta da nossa capacidade de viver experiências autênticas.
Em última análise, o marketing deve ser uma força para o bem, elevando e enriquecendo a experiência do público, não manipulando-a para ganhos superficiais. Temos que promover práticas que respeitem nossos espectadores e reflitam os valores fundamentais de honestidade, integridade e transparência. Somente assim podemos perseguir um futuro em que o marketing seja visto não como um artifício, mas como uma autêntica expressão de valor e significado.
Para você que acompanhou este texto até aqui, caso ainda haja dúvidas sobre este espetáculo meticulosamente orquestrado — destinado a capturar seu tempo, atrair seus cliques, acumular visualizações e, acima de tudo, direcionar seu dinheiro, dê uma olhada como essa história de agressões acaba…